segunda-feira, julho 24, 2006

Não insignifica Nada

Rosnar com o medo, que a morte distante,
a um gesto do resto de rosto disfarçado,
calado, concebido da falta de retratação revelada.

Não viverei mais não. Viverei mais sim.

Um homem entrou com seu leão, em um estúdio:

-Quero fotografar meu animal de estimação.
-E por que você quer fazer isto aqui? Perguntou o retratista.
- É porque ele vai morrer jaz, ou eu, não sei!

Todos são em algum lugar do seu corpo, a cor da morte.
E é assim parecida, todas as matérias, sem ter exceção na busca pela
antecipação da proliferação da cor, mas inevitável, só o gosto do prazer.
A pedra pela contaminação, o bicho pela liberação e o homem pela liberdade.

No ex-tudio.

-Se você não sabe! Então é isso que você quer? Salvar o seu Leão. Respondeu o retratista.
-O que me adianta ter um leão? Ele não existe por mim, por isso decidi matá-lo.

O retratista pegou a máquina. O leão colocou-se diante da câmera. O retratista tirou uma foto e o leão atacou o retratista, devorando-o, enquanto o homem fotografa cada golpe do Leão.

a luz não é bem o que se imagina
Finalmente

Certo dia,
um dia qualquer em que o dia nasce
e as estrelas ainda estão lá sem ao menos se destruírem,
um desejo e um apego,
milhares de células se desprenderam.

Uma nova forma de mulher nasce para ironizar a criação e seus modos de envelhecer. Sem ter com isso a menor preocupação com os que já existiam.

E, ao deixares a Lua tonta. Enlouqueceste outros tantos com teu sorriso.
E de menina guardou tudo de inocente
e sonhou ser mulher com um marido atrevido,
mas ficou longe de ser.
E então foi ser garota e depois mulher sem ter.

Teve tudo ao seu redor,
mesmo os de menor queria inteiro
e teve tudo o que era do rio e do mar.
Aprendeu a ser passageira com bagagens,
amor guardado em gavetas se escondia.
Até pensar em euforia,
sonhar e ter prazer,
caminhar com pés descalços,
nuas frias, choro intenso de alegria,
rir de tenso,
céu cinzento.

Embora fosse preciso uma única poesia em seu caderno escolar, nascia, em seu desejo, uma vontade de acordar.
Seu olhar era sempre a sombra da sua fantasia
e não adiantava disfarçar.

A arte é uma forma de amar.
O amor e a saudade são companhias de amargar.
Quando se misturam cores, cria-se o desejo de revelar
o que fica sempre escondido.
E não há no mundo inteiro alguém
que possa explicar esse instante.
É sempre um "porém", uma necessidade...uma vaidade.

Esta mulher não era triste,
era simplesmente menina crescida,
nascida para se amar como uma rainha celta,
uma feiticeira que, deixando a selva,
esquece a fera ao acordar no dia.

Depois de tais anos, cuida das crias como a flor do dia,
exalando seu perfume e sonhando com seus cristais,
emoldurando a vida e cobrindo o universo como se fosse seu
e se um dia eu escrevesse céu com esse,
pode ter certeza: seria seu.

As verdades são mentiras no plural.
Deus no singular.

Em mente serão teus seres em tecidos,
bordados em couro fino,
com um brilho simples em fogo ao anoitecer.
Sua caverna profunda guarda o sereno de folhas,
guarda a aurora em ar,
guarda o negro em pedaço
e o doce mel que escorre em vales,
inundando fendas e brotando flores roxas,
deixando a vida sem morte.

Talvez eu não esteja certo,
mas ao te ver em teu travesseiro,
deslizando em teus lençóis,
acredito que a Lua seja um desenho no céu.

A ti que conheci para todo o sempre, serás minha lembrança última, na hora que o céu e o escuro dos meus olhos eu encontrar. E com a terra já em face, meu sorriso deslocará grãos de areia, como a Lua fez com o mar.
Freud sentado

Estou ficando tão adulto, que não me mexo sozinho parado.
Conheço uma garota doente. Pego uma bactéria e toda uma prole de vírus. Utilizo uma bacia com um boneco de plástico dentro para criar nosso filho, antes que ela morra. Suspendo a bacia acima da minha cabeça e coloco uma mulher em cima de mim. Atiro a bacia como um disco e um bebê voador.
Este foi nosso ritual para o ato sexual.
Sozinho, parado. Conheço uma garota adulta. Até o dia de a bacia retornar como um bumerangue espacial. O telefone de contato com o bebê espacial é o pênis. A garota doente reclama a demora na ligação. Eu pergunto à sua calcinha, enquanto ela segura o aparelho na mão:

-Posso brincar de cama-elástica?
Estou ficando tão velho, o doutor passa ao meu lado:
-Apague o cigarro.

A garota doente pede uma fumada. Pergunto pelo aparelho. Ela não responde nada.
Foi aí que me senti esponja.
Ela se deita no banco, com sua cabeça doente. Encosta o seu ouvido no aparelho para falar com Deus:

-Alô! Senhor!...Ocupado!

Então deitei ao seu lado debaixo, com a cabeça num gesto de penitência. Olhei para o seu sexo enclausurado, me confessei arrependido. Passei a língua sobre o véu de sua pomba. Levantei a cabeça e disse:

_ Hoje nada está funcionando!